A educação é a vacina para a desigualdade. O cenário da pandemia potencializou as desigualdades; e o fechamento das escolas interrompeu o processo de aprendizagem, principalmente para a população mais vulnerável. Um estudo da FGV Social, com base em dados do IBGE mostram que crianças e adolescentes de classes mais favorecidas, durante a pandemia, estudam em média 64% mais horas do que os de classe menos favorecidas. A falta de acesso a internet, a precariedade de condições habitacionais, a falta de um local adequado para o estudo, dificuldades com o ensino remoto, precariedade de equipamentos tecnológicos e muitas vezes até a ausência de condições básicas como o ter garantido o fornecimento de energia elétrica dentro de casa; são aspectos que limitaram o aprendizado de crianças e adolescentes em vulnerabilidade e risco social e muitos na pandemia, abandonaram os estudos. Segundo pesquisa da Unesco 5,5 milhões de crianças e adolescentes não tiveram acesso a Educação no Brasil em 2020; porém foram promovidos para a série seguinte; também tivemos 2 milhões de estudantes da Educação Básica que abandonaram a escola. Este é um cenário crítico!!! Mesmo para aqueles em que as famílias se empenharam em manter os filhos estudando a distância; buscando a superação dos desafios diários; as desigualdades se fizeram presentes na educação e esse impacto vai perdurar para depois da pandemia e infelizmente é esperado uma lacuna no desempenho educacional entre crianças e adolescentes mais favorecidos e os menos favorecidos. Segundo Marcelo Neri, diretor da FGV Social, a pandemia deve quebrar uma sequência de 40 anos de avanços, ainda que tímidos, na educação.
O que podemos fazer para minimizar os impactos negativos da pandemia na educação de crianças e adolescentes vulneráveis?
O envolvimento da família na educação dos filhos é fundamental; e para aumentar o envolvimento dos pais na educação domiciliar é necessário que as famílias sejam acolhidas e recebam suporte pedagógico, tecnológico e emocional, entendendo o quanto eles (pais) são imprescindíveis no processo de aprendizagem dos filhos, independente da sua formação escolar. Os pais e responsáveis, possuem a função de proteger os filhos e essa proteção está vinculada a garantir e lutar por direitos, ter uma educação de qualidade é um direito; sendo assim, pais ou responsáveis precisam estar atentos ao que é oferecido aos filhos na questão educacional.
O engajamento das famílias é um grande desafio para as escolas públicas e algumas estratégias são necessárias:
∙ Produção de materiais de ensino com instruções detalhadas de como realizar cada atividade pedagógica;
∙ Apoio para que os pais ou responsáveis consigam desenvolver uma rotina de estudos com os jovens e crianças;
∙ Apoio emocional e psicológico aos pais, responsáveis, jovens e crianças;
∙ Uso de ferramentas como mensagens de texto para manter o contato próximo com os pais; fortalecendo os vínculos.
A desigualdade social, a defasagem educacional e a precariedade de oportunidade é uma realidade vivida nas periferias, porém os impactos da pandemia serão superados a partir do momento em que existir um esforço intersetorial envolvendo as áreas da Educação, Saúde e Assistência Social.
Nesse sentido as Organizações da Sociedade Civil, como o Pequeno Cidadão, assumem um papel extremamente importante na busca de minimizar os impactos dessa pandemia, acolhendo as famílias, oferecendo suporte emocional e estimulando o conhecimento geral na sua forma mais ampla; oferecendo novas possibilidades de aprendizagem, estimulando o acesso a leitura e a conteúdos que desenvolvam o raciocínio lógico, concentração, análise crítica, atenção e memória; aspectos importantes para a aquisição de conhecimento. Fortalecer o vínculo, nesse momento de pandemia, com as escolas públicas também é uma estratégia das Organizações da Sociedade Civil no sentido de favorecer que as famílias se aproximem da educação, sentindo-se parte desse processo de aprender; além da instituição estreitar a parceria com as escolas, é importante unir forças, entendendo a essência da educação e do seu papel na transformação social.
A retomada gradual das atividades escolares exigirá novos posicionamentos; e mais uma vez a família será essencial: é necessário ter atenção especial para estratégias de recuperação da aprendizagem e para os impactos emocionais, físicos e cognitivos gerados pelo estresse vividos na situação de isolamento e também no retorno das atividades. Entender os impactos da pandemia na saúde emocional de crianças e jovens será o próximo tema abordado por nós.
O texto acima foi produzido a partir de algumas leituras: Movimento Todos Pela Educação, A Educação Não Pode Esperar – IEDE; Estudos sobre Educação - Instituto Ayrton Senna.
Valquiria Moraes – psicóloga e psicopedagoga
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