A mudança de rotina, as incertezas, a ausência dos colegas, a falta de interação com a comunidade escolar aliadas à responsabilidade de cumprir, sozinho, as tarefas da escola e agora a possibilidade de retorno as atividades escolares; afeta diretamente a estabilidade emocional de crianças e adolescentes.
Alguns dos maiores impactos sobre o estado psicológico de crianças e jovens são: insônia, irritabilidade, crise de ansiedade, dificuldade para adaptação ao confinamento, falta de paciência para lidar com os familiares, tendência ao desenvolvimento de episódios depressivos e hipersensibilidade emocional.
O sentimento de incerteza continua intenso; tais sentimentos podem ser potencializados deixando algumas crianças e jovens tímidas e mais introvertidas; por isso é fundamental criar um espaço para que expressem seus sentimentos.
Além de tudo isso, todos vivemos as mudanças de rotina que ocorreram, na vida de crianças, jovens e de seus pais e agora essa rotina está prestes a mudar novamente. Foi difícil de repente todos estarem em casa, mudar a rotina novamente; e se ausentar da segurança que o lar representa, pode também gerar alguns impactos; principalmente para as crianças menores, pois existirá todo um período de readaptação à escola e de afastamento dos pais.
Muitas pesquisas indicam que após um cenário de crise, como o que estamos vivendo, muitos desafios precisam ser enfrentados e o maior deles é o desafio de enfrentar os impactos emocionais gerados pela crise. Com enfrentar essa realidade e o que fazer para minimizar esses impactos?
A crise afetou a todos, crianças jovens e adultos; e todos precisam de cuidados; e além do apoio psicológico e do acolhimento emocional outra forma de minimizar os impactos da pandemia é por meio do desenvolvimento das “competências emocionais”, tais como a resiliência, a adaptabilidade, a confiança, a tolerância ao estresse e a frustração.
Algumas escolas gradativamente estão retornando as suas atividades e uma das preocupações deveria ser o estado emocional do corpo docente. As escolas particulares estão organizando a formação de seus educadores para que eles tenham subsídios emocionais para lidar com o retorno das atividades e também saibam como acolher emocionalmente os alunos; e para isso estão organizando oficinas com psicólogos e também criando estratégias para preparar os alunos por meio do desenvolvimento de “competências socioemocionais”. Toda rede de ensino deveria priorizar, já nas primeiras semanas de retorno das atividades o trabalho em torno das competências socioemocionais preconizadas na BNCC (Base Nacional Comum Curricular) mas será que a rede púbica de ensino terá condições de fazer isso? O que podemos fazer?
Novamente as famílias terão papel primordial nesse retorno; acolher e ouvir os sentimentos dos seus filhos e ajuda-los a entender as suas emoções por meio de conversa e da escuta e NUNCA minimizar o sentimento da criança.
Existe ainda o medo da doença, da contaminação. O medo dos adultos influencia diretamente as crianças, por isso será necessário enfrentar níveis diferentes de ansiedade, pois as crianças levarão para a escola e trarão para casa toda uma bagagem do que vivenciaram e vivenciam desde o início da pandemia. O diálogo e a escuta continuam sendo fundamentais.
As escolas são centros de atividade social e interação humana e nesse retorno a escola deverá ser divertida, um lugar agradável para estar, mesmo com todas as responsabilidades que se tenha dentro dela, o lúdico deve estar sempre presente, os jogos, a música, as brincadeiras, e esse é um grande desafio.
Nós da Ong Pequeno Cidadão, acreditamos que crianças e jovens precisam ser desenvolvidos em todas as suas dimensões; por isso priorizamos o desenvolvimento integral, em que é oferecido a eles a possibilidade de vivenciar as dimensões cognitivas, emocional, cultural, lúdica, física, artística; construindo um caminho para que façam escolhas e sejam protagonistas da sua história.
Entendemos que todas as competências socioemocionais são importantes para o desenvolvimento pleno de crianças e jovens, mas algumas habilidades são essenciais em momentos de crise, mas o que são competências socioemocionais?
COMPETÊNCIAS SOCIOEMOCIONAIS
São capacidades individuais que se manifestam nos modos de pensar, sentir e nos comportamentos ou atitudes para se relacionar consigo mesmo e com os outros, estabelecer objetivos, tomar decisões e enfrentar situações adversas ou novas.
Entender as competências abaixo e a importância de cada uma, poderão auxiliar você a compreender a necessidade de desenvolvê-las em nossas crianças e jovens.
Empatia - Capacidade de entender os sentimentos dos outros e mesmo diante da dificuldade ter empatia nos faz tirar o olhar de si mesmos; olhando a necessidade do outro
Por que empatia é importante?
Quando temos empatia, podemos entender as necessidades e os sentimentos de outras pessoas e oferecer apoio de acordo com o que elas precisam. Uma pessoa empática constrói relacionamentos próximos e consegue ajudar, apoiar e dar assistência, tanto material quanto emocional, a outras pessoas; enfim, é ser uma pessoa generosa e de fácil convívio.
Como desenvolver essa competência?
Os responsáveis devem manter o diálogo constante com os filhos, buscando entender os seus sentimento e necessidades. Crianças e adolescentes precisam expressar os seus sentimentos para familiares, amigos e educadores; deixando de olhar somente para si e para as suas dificuldades. O exercício da empatia é um exercício de conexão com o outro. Produzir um diário físico ou virtual em que crianças e adolescentes podem registrar seus pensamentos e sentimentos por meio da escrita, de vídeos, de desenhos ou áudios. Ouvir outras pessoas e trocar experiência também é uma forma de exercitar a empatia.
Foco e persistência - Essenciais em momentos desafiadores. Ter foco e persistência significa saber direcionar a atenção e a concentração para as atividades que são realmente importantes neste momento, a superar obstáculos e a continuar em frente
Por que o foco e a persistência são importantes?
Foco e persistência nos ajudam a lidar com a quantidade de informações que estamos recebendo, selecionando aquelas que merecem ser passadas adiante. Também colaboram para enfrentar os desafios do cotidiano da vida em isolamento, pois são elas que nos ajudam a seguir em frente em situações de estresse, como é o isolamento social.
Como desenvolver essa competência?
Ë preciso que os responsáveis mantenham uma rotina em casa e façam combinados; crianças e adolescentes podem participar da construção dessa nova rotina; aprendendo tarefas simples e que colaborem com a dinâmica da casa. Separe um tempo para realizar atividades em família; os jogos de regras e de tabuleiro são uma boa opção para estimular a atenção e a concentração
Responsabilidade - Implica em gerenciar a nós mesmos, as nossas demandas pessoais e as demandas externas. Pensar de forma coletiva diante da situação que se impõe requer de nós uma competência socioemocional fundamental, a responsabilidade para fazermos o que é melhor para todos. É importante estar ciente de que somente se todos formos responsáveis e agirmos em sociedade de acordo com o esperado é que a situação poderá ser controlada para diminuir os impactos.
Por que a responsabilidade é importante?
A responsabilidade nos ajuda a cumprir nossas obrigações e compromissos, mesmo que isso não nos agrade tanto. Agindo assim, nos tornamos confiáveis e fazemos outras pessoas se sentirem bem, porque elas podem contar conosco sempre que precisarem.
Como desenvolver essa competência?
Pais e responsáveis precisam conversar com os filhos sobre a importância da responsabilidade com o coletivo, utilizar mascara e evitar sair de casa é um ato de amor e responsabilidade. Manter uma rotina de estudo e lazer com horários definidos e também participar da organização e realização das tarefas da casa.
Tolerância ao estresse – Faz parte do grupo das competências de resiliência emocional e nos permite administrar sentimentos. Para lidar com o medo, frustração, tédio e outros sentimentos comuns nesse período, é preciso aprender a desenvolver maior tolerância ao estresse.
Por que a tolerância ao estresse é importante?
Quando temos maior tolerância a situações de estresse, podemos encontrar o caminho para manter a calma em situações difíceis, manter o equilíbrio e não perder o controle de nossas emoções. Conseguimos reconhecer a frustração e saber o significado dela para nossas atitudes, mas com uma perspectiva mais propositiva, mesmo quando as coisas não acontecem do jeito que esperávamos. Assim, pode se manter reduzida a probabilidade de depressão e ampliada as situações de bem-estar.
Como desenvolver essa competência?
Os responsáveis precisam apoiar os filhos para expressarem seus medos e ansiedades. Escrever é uma forma de elaborar as emoções e ajuda o autoconhecimento. Quando perceber os filhos mais agitados, nervosos ou com pensamentos negativos, procure conversar com eles, canalizando esses sentimentos para atividade recreativas e esportivas. É preciso manter a saúde mental e física, por isso o exercício, o sono regular e uma dieta balanceada são bons aliados nessa crise. Crianças e jovens podem separar um momento do dia para se exercitar por meio de movimentos corporais como a dança e outras atividades físicas que podem ser realizadas em família.
Criatividade e interesse artístico - Ligadas à imaginação, são a criação de coisas novas e úteis e a expressão em diversas linguagens. É importante buscar modos de expressão que possam aliviar as tensões e as ansiedades e produzir novos sentidos de vida.
Por que a criatividade e o interesse artístico são importantes?
Pensar e agir de forma criativa nos ajudam a lidar com nossas emoções e a tornar tangível nossas experiências. Isso envolve desde apreciar e descobrir manifestações artísticas, como também deixar a imaginação correr e produzir algo novo no seu cotidiano. A arte é uma grande forma de se conectar consigo mesmo e com os outros.
Como desenvolver essa competência?
Escolha um momento do dia para fazer arte. A multiplicidade da arte nos permite vivenciar momentos incríveis: toque um instrumento, faça música, cante, faça um desenho; até porque é preciso abandonar a ideia de que não se sabe desenhar; não existe desenho certo ou errado, mas existe desenho. Deixe registrados os seus sentimentos no papel. Use o “momento da arte” como uma oportunidade para se ouvir. Ouça canções de seus artistas favoritos e ouça outros artistas e amplie o seu repertório. Estimule seus filhos a serem sensíveis a arte e enxergue a arte no seu cotidiano. Que tl descobrir um novo artista a cada dia?
Aprendendo e Capacitando
Não podemos ensinar um caminho para alguém quando esse caminho não foi percorrido por nós; por isso busque olhar para si e desenvolver em si mesmo essas competências, para então, ensinar esse caminho para outra pessoa.
Todas essas competências são trabalhadas nas atividades desenvolvidas pela equipe da Ong Pequeno Cidadão; com as crianças, adolescentes e as famílias atendidas. Oferecer um espaço de convivência, mesmo on-line; em que a empatia, a responsabilidade, a persistência, a tolerância e a criatividade permeiem as ações; fará com que as crianças e jovens sejam cidadãos melhores para si e para o mundo.
Faça a sua parte e contribua para que você e seus filhos tenham saúde emocional.
O texto acima foi produzido a partir de algumas leituras: Movimento Todos Pela Educação - Agência Brasil, Publicação do Hospital Santa Mônica - Aventura de Construir – Instituto Ayrton Senna – Organização Mundial da Saúde
Valquíria Moraes – Psicóloga e Psicopedagoga
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